Deu no Financial Times: agiotas chineses exigem fotos íntimas de suas devedoras como garantia de empréstimos. Se elas não pagarem, as imagens caem na rede. Os sujeitos orientam às meninas que solicitam financiamento que enviem fotos nas quais exibam também a carteira de identidade. Desta forma, não há como escapar do vexame em caso de calote.
A prática vem ganhando espaço frente a um sistema bancário nebuloso, cujas instituições chegam a cobrar 30% de juros ao ano sobre empréstimos, fora as demais exigências. Sem poder contar com o esquema oficial, as jovens acabam recorrendo aos que atuam no submundo.
O principal motivo dos empréstimos são as altas anuidades dos cursos universitários, mas há casos de mulheres que tomaram dinheiro emprestado para iniciar o próprio negócio ou mesmo pagar dívidas. Elas acreditam que podem reverter a situação ruim e caem na lábia dos agiotas, mas em pouco tempo veem suas dívidas duplicarem ou, até mesmo, quadruplicarem. Aí vem o desespero. Na maioria das vezes, são obrigadas a pedir ajuda à família para não enfrentarem o pior.
A chantagem é apenas parte da enorme criatividade – e crueldade – dos emprestadores de dinheiro. Outras práticas incluem lesões corporais, destruição de bens e ameaças à vítima e sua família. Um dos grupos mais afetados são migrantes em situação precária de trabalho. Eles têm medo de procurar a polícia e acabam se sujeitando a todo tipo de coação.
Os empréstimos paralelos, fora da rede bancária oficial, proliferaram-se na China, inclusive mediante a utilização de recursos dos próprios bancos. Os agiotas levantam o dinheiro e o repassam a pessoas que não teriam condições de se beneficiar dos empréstimos bancários, seja por falta de documentação adequada ou de garantias. Com isso, cobram juros exorbitantes.
Mas há também a participação de indivíduos e famílias, que reúnem suas economias e emprestam a particulares. O principal meio para esse tipo de negociações é a plataforma Jiedaibao, que propicia a intermediação entre quem quer emprestar e quem precisa tomar dinheiro. Até aí, tudo dentro da normalidade. O problema é a utilização desse portal para a realização de negócios ilícitos. Um representante do Jiedaibao se defendeu: “Trata-se de uma transação off-line ilegal entre vítimas e emprestadores, iniciada por meio de nossa plataforma”, disse ao Financial Times.
A proliferação dos agiotas é fruto também da inadimplência. Não é novidade que a economia da China vem se desaquecendo, com reflexos principalmente no setor imobiliário. Exportadores do mundo todo já sentiram a diminuição dos negócios para o gigante oriental. Internamente, porém, as consequências são maiores.
O fato curioso é a aparente omissão das autoridades num país que atua com mão de ferro na repressão política – como já abordamos em artigo anterior – e até nas relações individuais. Parece piada, mas medida recente do Ministério da Cultura chinês proíbe vídeos na internet de pessoas comendo banana de forma “sedutora”. Os serviços de streaming foram notificados a monitorar as produções com esse tipo de objeto, assegurando que nada “desagradável” seja transmitido ao público. A proibição também recai sobre o uso, por apresentadores e artistas, de meias-calças com cinta-liga e de suspensórios durante as transmissões ao vivo nas emissoras de televisão.
Enquanto o governo zela pela moral e pelos bons costumes, as estudantes chinesas correm o risco de terem suas vidas arruinadas por causa de fotos comprometedoras nas mãos dos agiotas. Pobres mulheres da China.